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sábado, 6 de dezembro de 2008

Calcinha de Vidro


Ela era uma na multidão feminina.
Há quem diga que a multidão era ela.
Conheci esta mulher perdida, vagando pelos trilhos...
Perdeu o trem, não viu a paisagem.
Na estação sem primavera... nenhuma flor, nenhuma passagem.
Observei aquela mulher de estranha beleza,
Vi no seu rosto uma sutileza,porém o olhar era escuro, sem luz ;a boca entre aberta em lábios carmim e ancas volumosas; tão mortas!
Seu caminhar era pesado como se arrastasse o mundo.
Estendi-lhe a mão e pude sentir a frieza sem sangue.
Disse-me em tom baixo e casto,que fora vítima de engôdo.
Sonhara em amar, desejar, se entregar ao prazer...Proibido.
Castrada no seu viver, queria ser uma pedra preciosa, transparente...
Tornou-se uma luz guardada, como fosse a gema do ôvo.
Num tom muito baixo, tanto quanto seu olhar, em transe, buscava um sentido.
Um apito ao longe gritava seu sofrer e lhe oferecia um vagão. Um abrigo.
Afastou-se de mim arrastando sua multidão infeliz e doente. Rogava uma chance.
Eu soube que naquela estação ela vagava há anos vestida em "calcinha de vidro".
Só queria pegar o trem e seguir sua própria viagem, um mito!
A multidão de mulheres a perseguia e os homens fugiam.
Confusa perdia o trem da liberdade e encontrava só num trilho.
Seguia preciosa e transparente vestida de vidro embaçado de falsa castidade.

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